Caio Menezes
Apesar da pouca idade, joias das categorias de base dos principais clubes brasileiros seguem os passos de Lucas e Neymar e protagonizam transações com passes milionáriosDe que o Brasil é o país do futebol ninguém tem dúvidas. E em 2014, ano em que os melhores jogadores do planeta se reunirão por aqui para a Copa do Mundo, o brasileiro está de fato contagiado pelo espírito do mascote Fuleco. Mas, enquanto a Copa acontece nos estádios bilionários que são erguidos País afora, muita gente está de olho nos campinhos de terra e nas categorias de base dos clubes, onde estão os próximos astros das Copas.
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Por carregar esse título de país do futebol, o Brasil não poderia deixar de ser o maior celeiro de craques do mundo. A boa notícia é que esses prodígios estão amadurecendo cada vez mais cedo e se valorizando de uma forma jamais vista.
Prova disso são as quantias astronômicas pagas por Lucas e Neymar, as mais recentes joias do futebol brasileiro que foram parar na Europa. O meia são-paulino foi para o Paris Saint-Germain (França) aos 20 anos por R$ 108 milhões, enquanto o ex-santista foi comprado pelo Barcelona (Espanha) com 21 anos por cerca de R$ 185 milhões -- após a descoberta de algumas fraudes no negócio, a transferência já pode chegar a R$ 314 milhões.
O caso dos dois craques é isolado, mas mostra uma tendência no mercado brasileiro: os jogadores jovens ficam cada vez mais valiosos e atletas de quem o torcedor nunca ouviu falar são vendidos para a Europa por quantias muito altas.
É o caso de Wallace, ex-lateral direito do Fluminense. Aos 17 anos, o atleta teve 60% de seus direitos vendidos ao Chelsea (Inglaterra) por mais de R$ 14 milhões, em 2012. “Fico feliz porque é sinal de que meu trabalho foi valorizado”, diz em entrevista ao iG.
Hoje aos 18 e vestindo a camisa da Internazionale de Milão (Itália) o carioca já é mais valioso do que a maioria dos jogadores que disputarão a Copa do Mundo no Brasil, mas diz não sentir mais pressão por ter custado tanto aos cofres do clube inglês. “Responsabilidade de ser jogador de futebol independe de ser caro ou barato, tem que ser sério sempre”, conta.
Caminho inverso
Enquanto Wallace decidiu trocar o Brasil pela Europa ainda jovem, outros atletas com o passe a peso de ouro preferem ficar por aqui. Andrigo é um bom exemplo. Com multa rescisória estipulada em R$ 196 milhões, o atacante de 19 anos sofreu assédio de gigantes europeus como Manchester United (Inglaterra) e Barcelona, mas preferiu continuar no Internacional.
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“Não queria que minha família mudasse para o exterior. Acho que tomei a decisão certa”, diz o jogador, que tinha apenas 15 anos na época das propostas -- apesar de uma regra da FIFA proibir que atletas joguem em times estrangeiros antes dos 18 anos.
Sucessor de Alexandre Pato, como o próprio atacante do São Paulo disse ao trocar o Internacional pelo Milan (Itália), Andrigo não sente a urgência de ir para a Europa agora. “Minha intenção é jogar mais um tempo no Inter, fazer um nome aqui e depois ir para a Europa e a Seleção, que é o sonho de todo jogador”, conta o gaúcho, cuja meta é se tornar ídolo no time de coração.
Também no Inter, outra joia começa a se destacar nas categorias de base. Aos 17 anos, Bruno Gomes chegou ao Colorado no fim do ano passado após se destacar nos campeonatos de base pelo Desportivo Brasil, de São Paulo. Depois de ter resistido a propostas tentadoras de clubes como Roma e Juventus (Itália), ele vendeu parte de seus direitos econômicos ao Manchester United. “Após um torneio, um olheiro me viu e procurou meu pai. Devido à minha idade não pude ir para Inglaterra”, conta o jogador.
Com multa rescisória de R$ 130 milhões, o atacante revela ter passado por algumas dificuldades por ser um jogador tão valioso. “Principalmente no Desportivo por ter chegado com status de jogador do Manchester. Mas aos poucos fui conquistando o grupo e passei por cima”, lembra.
Hoje, a maior meta do goleador é fazer história no Colorado. “Meu objetivo é me firmar no Internacional, ser artilheiro de todos os campeonatos que eu disputar e virar xodó da torcida”, planeja. “Depois, ir para seleção, jogar as Olimpíadas e a Copa do Mundo. Depois disso, ir para a Europa e fazer uma grande carreira por lá.”
O que torna um jogador valioso?
Apesar dos valores exorbitantes, não é a multa rescisória que determina o valor de um jogador. Existem muitos rankings que medem quanto vale o passe de um atleta. No Brasil, um dos principais é o da Pluri Consultoria. “São 77 critérios divididos em 18 grupos, que contam com fatores de dentro de campo, como habilidades técnicas, táticas e físicas, e fatores extra-campo”, explica Fernando Ferreira, sócio-diretor da Pluri.
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Para ser um jogador valioso, não basta ter talento e saber fazer gol. “O que torna um jogador valioso é o talento somado a outras coisas, como suas ações de marketing e a posição em que joga. Um goleiro, por exemplo, vale menos do que um atacante”, diz.
Segundo a empresa, o jogador brasileiro mais caro no ano passado foi Neymar, avaliado em R$ 220 milhões. Já o jovem mais valioso é Marquinhos, zagueiro de 19 anos do Paris Saint-Germain, com o passe cotado em R$ 85 milhões.
Um dos fatores que influenciam no valor de um jogador é a administração de sua carreira: quanto mais profissional, mais conta para o atleta. “Um dos maiores vilões é a má administração”, diz Ferreira. Para ele, o jovem não pode deixar o sucesso subir à cabeça. “Não pode ter uma forçação de barra, tanto para sair [para a Europa] como para aumentar o salário. Se o cara for bom, ele vai vingar, não adianta forçar nada. Eu nunca vi isso dar certo”, explica.
E nada melhor do que um profissional para administrar a carreira do atleta. “Eu digo que são três fatores muito importantes para a carreira: o talento dentro de campo, apoio da família e do empresário”, diz Marcelo Bastos, dono da BR Foot e empresário de jovens talentos de clubes cariocas. “O papel de um empresário é dar suporte para a família. A gente dá uma ajuda financeira, auxílio na moradia, na área médica, no que precisar”, explica.
Apesar de não ser bem visto por boa parte do mercado, o empresário tem uma função fundamental na carreira de um atleta. “Hoje em dia, sem empresário não se vai a lugar algum. Porque o empresário te põe num bom time, ele está em contato com clubes, ele estuda o mercado, pode alavancar a carreira do jogador”, diz Fernando Ferreira.
O segredo do sucesso
O grande segredo dos jovens jogadores que já valem uma bolada é manter os pés no chão. “Alguns jogadores jovens acham que já são o Pelé. A família fala que eles são o Pelé, a imprensa fala, os amigos falam. E então eles querem sair do clube e ir embora, mas acabam se dando mal, porque muitas vezes eles são apenas medianos”, diz Amir Somoggi, consultor de marketing em gestão esportiva.
Dos campos de terra para os centros de treinamento europeus, também existe a questão do choque com uma nova realidade. “É muito difícil que um jogador, principalmente de origem humilde, não se deslumbre. Não acontece só com jogador, acontece com cantor, com todo mundo que ganha muito dinheiro de uma forma rápida”, diz Marcelo Bastos.
Por isso, o fator psicológico é trabalhado desde cedo na escolinha de futebol, junto com fundamentos básicos. “Nosso trabalho é meio que o trabalho de um psicólogo também. Às vezes os meninos vão para um teste e não passam. Não é fácil ouvir um não”, diz Glauco Antônio, ex-jogador de Santos e Internacional e um dos donos da escolinha oficial do Peixe em Ribeirão Preto, que revelou atletas como Lucas Claro, zagueiro do Coritiba.
No que diz respeito ao fator psicológico, os prodígios do Internacional parecem estar bem seguros. “Não adianta pensar só em dinheiro. Muito jogador foi para a Europa e não se adaptou, teve que voltar”, diz Andrigo. Wallace, que já está vivendo o sonho de jogar na Europa, também mantem os pés no chão. “A gente sabe que a vida do jogador é curta e que tudo pode mudar do dia pra noite. Então é sempre bom ser seguro”, diz o lateral. “Eu continuo treinando, procurando meu espaço e não me ligo muito nesta coisa de valor e preço.”
Como ser um jogador profissional
Treinar e buscar seu espaço é o item número na cartilha de todo jogador que quer se tornar um astro. “Tem que trabalhar muito e não desistir. Tem dia que vai ser brabo, mas pense no que você já apostou”, diz Wallace. Para Bruno Gomes, ter um objetivo é primordial. “É bom ter um objetivo, pois de nada vale apenas jogar e se tornar profissional se você não tiver um”, acredita.
Mas, apesar disso, é bom sempre ter um plano B. “Nunca pare de estudar. Você não sabe o que pode acontecer no futuro, então você não deve abandonar os estudos”, diz Amir Somoggi. “O futebol é uma carreira de risco, é curta e ainda pode acabar a qualquer momento”, corrobora Fernando Ferreira. Afinal, nem todo mundo pode ser o Neymar.
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