Natália Eiras
Thiago Vitório, 21, precisa arrecadar R$ 125 mil para partir para Berklee College of Music, em Boston. “Já ganhei a batalha mais difícil, agora tudo o que preciso é chegar lá”Foi um tecladinho velho descoberto em cima de uma guarda-roupa que despertou em Thiago Vitório, aos 10 anos, a paixão pelo piano. Aos 21, o jovem, de uma família humildade moradora de Taubaté, no interior de São Paulo, passa cerca de 5 a 6 horas estudando técnica e teoria do instrumento e espera realizar um sonho: frequentar as aulas em Berklee College of Music, em Boston, nos Estados Unidos. Para alcançar o seu objetivo, o músico abriu um projeto no site Benfeitoria, onde pretende arrecadar R$ 125 mil, quantia que garante, incluindo despesas com moradia, alimentação e passagens de avião, um ano no exterior. “Eu já ganhei a batalha mais difícil, que foi ser aceito na faculdade, agora tudo o que preciso é chegar lá”, diz o músico.
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A iniciativa é necessária porque a família de Thiago nunca teve dinheiro sobrando. Tanto que ele ganhou o piano um tanto velho e desafinado que tem em casa na base da troca. “Meu pai, marceneiro e projetista, chegou na casa de uma mulher e viu que ela tinha uma piano antigo. Os dois fizeram um acordo: ele faria o móvel, ela daria o instrumento”, narra com orgulho.
A primeira meta de Thiago era de R$ 22 mil. “O que não é nada, mas achamos que 50% do valor era muito. No entanto, já atingimos a nossa meta e podemos aumentá-la!”. E ele não espera apenas a ajuda de entusiastas da música, mas também coloca a mão na massa. “Estou fazendo concertos para arrecadar mais dinheiro. Tem muita gente mobilizada”.
Apesar de estudar música desde criança, o rapaz não tinha tanta segurança em seu futuro como intérprete até os 17 anos, quando fez as malas e voltou para a sua cidade natal, Barra Mansa, no interior do Rio de Janeiro, onde teria que trabalhar como professor em uma ONG para conseguir pagar a faculdade. “Foi o momento mais difícil da minha carreira até agora”, fala Thiago.
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Com o fim da graduação, o músico quis passar por mais um desafio e partiu para o Rio de Janeiro, onde trabalhou na ONG Arte & Transformação Social. Lá, o rapaz foi um dos escolhidos para fazer um curso de três semanas na CalArt, insituto de arte da Califórnia. “Meu inglês era capenga, mas aprendi que eu não tinha que tocar para divertir, mas para transformar. De coração para coração”, afirma.
Músicos eruditos são, normalmente, retratados como mais introspectivos e sérios. Thiago, no entanto, passa longe do estereótipo: ele fala bastante e não poupa nas brincadeiras. A “cara de pau” lhe rendeu o primeiro contato com a Berklee. “Quando soube que iria participar de uma turnê pelos EUA com artistas brasileiros, mandei um e-mail para eles dizendo que gostaria que eles vissem alguma apresentação”, narra o artista. “Passei por Boston, mas não tive mais nenhuma notícia deles”.
"Eu quero este cara!"
Thiago foi aceito em outras faculdades internacionais, mas nada mais lhe importava a não ser Berklee. Suas esperanças já estavam se esvaindo quando um e-mail mudou tudo. “Em dezembro, eles me mandaram uma mensagem em um sábado à noite dizendo que estariam no Brasil até segunda-feira. Peguei um ônibus, cheguei no Rio no domingo à noite e passei a madrugada toda estudando”, fala o pianista. “Não tinha como, tive que estudar muito, para ver tudo o que ia cair na prova”.
Porém, toda a ansiedade foi à toa. Intérprete de música contemporânea, o rapaz fez uma espécie de “duelo” de músicos com seu exanimador. E ele já sabia o seu destino no fim do último “golpe”: “O professor levantou, fechou o piano e gritou: ‘Ótimo trabalho! Eu quero este cara!’”, diz, sem esconder o orgulho.
Em março, ele soube da grande notícia. Ele não só havia entrado para a universidade, como havia conseguido a melhor bolsa para alunos estrangeiros. “Consegui uma de 50%, mas não é o bastante. As despesas são muitas”. O curso tem, ao total, 4 anos de duração, porém ele trabalha por meio de pequenas metas. “Quando eu estiver lá, é mais fácil de trabalhar, ganhar um dinheiro, conseguir mais benefícios”.
Além do dinheiro, outra barreira para sua educação será a língua. “Não sou um expert em inglês. Estou terminando o meu curso, mas lá é outra coisa. E não vou só tocar, vou ter aulas de história da arte e sociologia”, afirma. O frio na barriga pelos problemas de comunicação e o fato de estar longe de juntar os R$ 125 mil não o estão impedindo, no entanto, de já arrumar as malas. “No dia 30 de agosto é quando o meu avião parte”. Partiu, Berklee.
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