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“Não vamos mudar”: grafite transforma Joanesburgo em galeria a céu aberto

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Gustavo Abreu

Artistas se espalham pelas ruas de Newtown, bairro na região central da cidade. Movimento faz parte do processo de rejuvenescimento da África do Sul e conta com incentivo do governo

Nos anos 1980, quando o grafite começava a se disseminar pelos Estados Unidos e Europa, chamando a atenção até mesmo de algumas galerias mais pioneiras, o cenário das artes na África do Sul era bem diferente. O País se encontrava em um momento tenso de repressão em meio ao apartheid (regime de segregação racial) e, com isso, seus artistas eram impedidos de se expressar, a ponto de que o grafite era considerado um crime político, passível de prisão.

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Era um tempo em que se arriscar a fazer arte nas ruas simplesmente não era opção. E o mais angustiante de tudo é que aquele era um tempo onde tudo o que a população negra e pobre mais precisava era poder ter voz. Voz para lutar por direitos iguais e sonhar em um dia ver o mundo se transformando em um lugar melhor.

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O apartheid chegou ao fim em 1994 e o País celebrou sua primeira eleição direta, quando o sr. Nelson Mandela foi escolhido presidente da África do Sul. Naquele ano nascia no País a primeira geração “born free”, ou “nascida livre”, e nas ruas de Joanesburgo brotava o que viria a se tornar um dos movimentos artísticos mais excitantes do continente: o grafite sul-africano.

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Após tantos anos de repressão, as cores praticamente explodiram nas fachadas dos prédios e isso pode ser visto até hoje pelas ruas de Newtown, bairro localizado no centro da cidade, a maior da África do Sul.

O movimento do grafite em Joanesburgo passou a ter força em 2001, com o apoio do governo local e a Johannesburg Development Agency, órgão criado para controlar o crescimento da cidade, tanto econômico, como urbano e cultural.

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O processo de “colorir Joanesburgo” começou por encomenda da prefeitura e visa até 2040 transformar a cidade na maior galeria de arte a céu aberto do mundo, impulsionando também melhorias no setor público. O resultado é uma cidade mais viva e no mínimo inspiradora.

Laboratório jovem

Andando pelo centro de Joanesburgo (ou Joburg, como os locais chamam), é impossível não se encantar com a vibração das ruas, que formam um cenário muito parecido com Kreutzberg, bairro-reduto de artistas na parte leste de Berlim. Prédios decadentes, pontes e estacionamentos servem de tela branca para novos talentos, como os já conhecidos Tyke, Tapz e Mars.

Também fica claro em Newtown que a arte de rua de Joanesburgo ainda engatinha. É comum dizer que a cidade está pelo menos dez anos atrasada neste quesito, mas é exatamente isso que faz dela um lugar mais instigante: a primeira geração de grafiteiros ainda é jovem e isso significa mais experimentação, mais descobertas e infinitas novas possibilidades.

A efervecência é tamanha que hoje é bastante comum artistas de toda a África se mudaram para Joanesburgo, em busca de oportunidades criativas. Depois da Copa de 2010, quando o País esteve nos holofotes, grafiteiros famosos do mundo inteiro também começaram a incluir Joburg em seus roteiros, muitos deles incentivados por instituições como Aliança Francesa ou Instituto Goethe, como acontece bastante em São Paulo há algum tempo. É o caso, por exemplo, do alemão Herakut.

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Debaixo da via expressa De Villiers Graaff , as cores de Falko One, considerado o primeiro grafiteiro da Cidade do Cabo, contrastam com a torre de concreto sendo levantada ao lado, numa área imensa onde vai se instalar um shopping center de luxo, indício do desenvolvimento econômico do país.

A poucos metros dali, pertinho da City Varsity, escola de mídias e artes criativas, um muro escondido abriga os dizeres “WE WONT MOVE” (“não vamos mudar”), enquanto jovens estudantes e aspirantes a artistas circulam pelo local. A obra homenageia um protesto feito originalmente em 1955, e eternizado pela lente do fotógrafo Jürgen Schadeberg, que se tornou símbolo de resistência, quando o governo branco expulsou os negros das cidades grandes.

Hoje, ao mesmo passo em que a África do Sul se prepara para comemorar os vinte anos do fim do Apartheid, em 2014, os grafites nas ruas celebram vinte anos da liberdade de expressão.

Agora resta apenas torcer para que a arte não se mude de Joanesburgo tão cedo.

Artistas para ficar de olho

myza 420
http://www.flickr.com/photos/myza420/

Faith47
http://www.faith47.com/

Falko
http://www.flickr.com/photos/52744804@N06/

Galerias para visitar

Arts on Main
http://marketonmain.co.za/

Goodman Gallery
http://www.goodman-gallery.com/

Rooke Gallery
http://www.rookegallery.com/

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* O repórter Gustavo Abreu viajou a convite da South African Tourism


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