iG São Paulo
Amantes de tecnologia, HQs e "Star Wars" deixam o grupo dos perdedores na escola para ditar comportamento e estilo. Rótulo deixou de ser negativo para virar o grupinho "cool"Está bem enganado quem pensa que todo nerd usa aparelho, vive cheio de espinhas e não tem amigos. A imagem eternizada nos filmes e desenhos americanos, do CDF que apanha dos valentões da escola, está se tornando cada vez mais rara: hoje os nerds são protagonistas de séries, se tornam bilionários com suas start-ups e ditam comportamento nas redes sociais. Neste novo cenário, existe até mesmo um Dia do Orgulho Nerd, comemorado no dia 25 de maio.
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Para Bia Granja, curadora do youPIX, festival de cultura de internet cuja próxima edição acontece em julho, o nerd de hoje não tem um estereótipo.
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“O nerd já não usa mais camisa xadrez, caneta no bolso, óculos e aparelho nos dentes. Se você ver um cara assim na rua, é mais provável que ele seja hipster", brinca.
Segundo ela, o nerd de hoje é muito diferente do que conhecemos pelos ícones do cinema e tv, como o banana do Napoleon Dynamite ou o Milhouse de "Os Simpsons".
"Ser nerd hoje em dia tem a ver com ir atrás do que você quer. O novo nerd tem um espírito 'faça você mesmo' na veia. Ele realmente corre atrás das coisas que o interessam", comenta Bia.
Nerd com orgulho
O aluno de medicina Gabriel Antunes, 21, quem o diga. Ele é apaixonado por histórias em quadrinhos, filmes de super-heróis e RPG. Fã do Homem-Aranha e atualmente viciado em Battlefield 3, o estudante diz que não se encaixa no estereótipo clássico do nerd perdedor.
“Eu saio bastante, vou a shows, viajo com amigos e sempre conciliei isso com meu gosto por HQs, filmes de super-heróis e jogos online”, afirma.
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Em vez de o afastar das pessoas, as paixões do estudante o fizeram conhecer gente com gostos parecidos aos dele. “Ser nerd me fez conhecer muita gente bacana”, revela o futuro médico. Ele conta que, com suas paixões "nerds", fez uma porção de amigos em jogos online multiplayer e inclusive conheceu sua namorada em um fórum de discussão sobre música.
A também estudante Flora Cruz, 19, se sente nerd por gostar de animes, ficção científica, jogos online e ter lido três vezes “O Guia do Mochileiro das Galáxias”. “Hoje é difícil se definir como qualquer coisa sem ser apedrejada, mas acho que, pela definição generalizada, posso dizer que sou nerd”, reconhece a estudante de comunicação.
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Segundo ela, em tempos de Mark Zuckerberg e "The Big Bang Theory" é raro haver resistência em relação ao rótulo. “Eu sofro mais preconceito de meus pais do que de qualquer outra pessoa. Eles me veem jogando e falam para eu ir para a balada”, brinca.
Gabriel ainda aponta que, atualmente, o mais importante, sendo nerd ou não, é ser você mesmo e respeitar as diferenças no meio em que você vive. “Cada pessoa tem seus gostos pessoais e conviver em meio a essas individualidades traz bastante aprendizado. Eu aprendo com os gostos dos meus amigos ‘não nerds’ e eles aprendem com os meus”, afirma o estudante.
Ser nerd agora é "cool"
Gabriel, Flora e Bia concordam em uma coisa: é muito mais fácil ser nerd hoje. "Atualmente, os estereótipos nerds são positivos. É cool ser nerd. Antigamente, esse rótulo era negativo, ser nerd era estar preso em seu próprio mundo”, diz Flora.
A curadora do youPIX afirma que a internet foi muito importante para esta transformação. "A internet foi providencial para a transformação da cultura nerd. Hoje o nerd é um cara ligado à esfera digital, ele vai atrás do que quer e da melhor maneira de se expressar. Ser nerd hoje é uma questão muito mais filosófica do que física", avalia.
“A internet ajudou a cultura nerd a sair do underground e chegar ao mainstream. O campo nerd está muito mais expandido hoje em dia e isso ajuda na aceitação dessa cultura”, acredita a curadora.
O estereótipo nerd na mídia já está mudando, mas ainda não se assemelha a real condição dos nerds atuais. “Em 'Big Bang Theory', por exemplo, os personagens nerds têm necessariamente problemas sociais, e isso não é verdade na vida real”, compara Flora.
Para a estudante, não deveria existir uma definição de nerd. “Cada um tem seus interesses e gostos. As pessoas não deveriam ser rotuladas por serem diferentes da maioria. É como se eu resolvesse chamar pelo mesmo nome pessoas que gostam de assistir novela”, conclui.
